terça-feira, 3 de maio de 2011

O Resumo dos tempos do Ayrton Senna na Fórmula 1:

Estréia de Senna na F-1
Ayrton Senna foi o 14º piloto brasileiro a disputar um Mundial de Fórmula 1. Sua primeira temporada foi em 1984 na modesta equipe Toleman Hart Turbo. O piloto brasileiro não venceu nenhum GP mas mostrou que tinha talento e braço, conseguindo dois importantes segundos lugares, em Mônaco e Portugal.
O primeiro GP disputado por Senna foi em casa, no dia 25 de março, no circuito de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Com problemas no turbo, Ayrton teve que abandonar a prova na oitava volta. Já no ano seguinte, na Lotus, surgiram as duas primeiras vitórias na carreira: a primeira em Portugal e a segunda, na Bélgica. Em 85, Senna ainda obteve sete pole positions.

Primeira vitória no Brasil
Ayrton Senna conquistou a primeira vitória em casa em 1991, no dia 24 de março, no autódromo de Interlagos, em São Paulo. Naquele GP, Senna terminou a prova apenas com a sexta marcha de sua McLaren. Mesmo com uma única marcha, o piloto brasileiro conseguiu manter a média de 1min25s por volta. Isso foi registrado e comprovado pelas câmeras de TV instaladas em seu carro. O esforço foi tanto para completar a prova que Senna teve de ser ajudado para sair do carro ao final da corrida. Pelo rádio do carro, ele exprimiu toda sua alegria e alívio quando completou a última volta e ultrapassou a linha de chegada. Emocionado, começou a gritar: "I don't believe" (eu não acredito, em inglês). Mais tarde Senna declarou que este GP foi muito especial em sua carreira, não só por ser a primeira vitória no Brasil mas também pela forma heróica como a conquistou, e chegou a compará-la a sua primeira vitória na F-1.
Primeiro título mundial
O primeiro título mundial de Ayrton Senna veio em 1988, com a McLaren. Foi uma campanha brilhante e uma acirrada batalha contra o companheiro Alain Prost. Senna venceu oito das 16 provas do campeonato. Naquele ano, o brasileiro voou baixo e provou que era o piloto mais rápido da categoria, ao obter 13 pole positions.
No GP do Japão, em Suzuka no dia 30 de outubro, penúltimo da temporada, Senna garantiu o título após uma corrida fantástica. Senna teve problemas com seu carro na largada, saiu em último e completou a primeira volta na 19ª posição. Debaixo de chuva e pilotando como nunca, Senna começou a ultrapassar os adversários até chegar próximo de Prost, que liderava. A chuva parou e o brasileiro então provou que não era bom apenas na chuva: ultrapassou Prost e venceu a prova, conquistando assim pela primeira vez o título mundial.

Rei de Mônaco
Ayrton Senna em sua galeria de vitórias tem uma marca muito especial. O brasileiro venceu simplesmente o GP de Mônaco seis vezes e virou o "rei de Mônaco". Nas temporadas de 87, 89, 90, 91, 92 e 93, ele deu show e banho de champanha na família real, quebrando o protocolo mais de uma vez.
No seu primeiro GP em Monte Carlo, em 1984, Senna deu um espetáculo. Debaixo de chuva, com a modesta Toleman, o brasileiro chegou a ultrapassar a McLaren de Niki Lauda e, andando muito rápido, continuou deixando adversários mais fortes e experientes para trás.. Quando se preparava para ultrapassar o francês Alain Prost, que liderava a prova, os dirigentes do GP interromperam a prova, argumentando que a chuva estava forte demais. Assim, a vitória foi dada ao francês.

Senna nos braços do povo
No GP de 28 de março de 1993, no Brasil, em Interlagos, Ayrton Senna conseguia sua segunda vitória em casa, a 37ª na carreira e a 31ª na equipe McLaren. Nesta corrida, o rival Alain Prost liderava e, quando começou a chover forte, o francês não trocou os pneus, bateu em Christian Fittipaldi e saiu da corrida. Senna então aproveitou e foi ganhando posições até ultrapassar o inglês Damon Hill para assumir a liderança e vencer o GP. Foi uma vitória inesquecível que mereceu uma comemoração inédita: pista invadida pelos torcedores e Senna carregado pela multidão. O piloto brasileiro foi simplesmente arrancado do carro e comemorou a vitória nos braços da eufórica e imensa torcida brasileira presente em Interlagos.
O bicampeonato mundial
Ayrton Senna conquistou seu bicampeonato no penúltimo GP da temporada de 1990. Foi em Suzuka, no Japão, que o brasileiro deu o troco no rival Alain Prost, que um ano antes havia vencido o campeonato de forma pouco ética. Naquele GP, o francês "fechou a porta" quando Senna, nas voltas finais, tentou ultrapassá-lo. Houve o choque e os dois saíram da pista. Senna ainda voltou ajudado pelos comissários, mas acabou desclassificado. Um ano depois Senna deu o troco na mesma moeda e local. Prost precisava da vitória para levar a decisão para o último GP, na Austrália, e também não podia provocar um incidente com Senna, já que desta vez o prejuízo seria seu. O suspense durou menos de dez segundos. A Ferrari do francês, que largou na segunda posição do grid, conseguiu tomar a dianteira, mas Senna forçou o carro e entrou por dentro na tomada da primeira curva. Então nenhum dos dois deu o braço a torcer. A roda direita traseira da Ferrari tocou na dianteira esquerda da McLaren e os carros saíram da pista, fazendo uma imensa nuvem de areia. A corrida não foi paralisada e Ayrton conquistava o bicampeonato mundial de F-1.
O tricampeonato mundial
No dia 20 de outubro de 1991, a Fórmula 1 conhecia o seu mais novo tricampeão mundial. Novamente no circuito de Suzuka, no Japão, Ayrton Senna disputava o título da temporada com o inglês Nigel Mansell, da Williams, que, logo na 10ª volta, abandonou a prova com problemas no freio. Daí para frente Senna deu um show e comemorou em grande estilo o tri. Na volta final, quando liderava folgadamente, num gesto de companheirismo - ou por imposição da equipe - cedeu passagem ao seu amigo e companheiro, o austríaco Gerhard Berger , que assim conquistava sua primeira vitória na F-1. Senna, então, entrava para o seletíssimo grupo dos tricampeões mundiais e também era o mais jovem piloto a conquistar essa façanha na história da F-1. E ao lado de Nélson Piquet colocou o Brasil numa situação invejável no automobilismo mundial: era o único país a ter dois tricampeões mundiais de F-1. Ainda no campeonato de 91, no último GP da temporada, Senna ganhou a corrida e quebrou um tabu de nunca vencer a prova de Adelaide, na Austrália. De passagem ainda deu o tetracampeonato mundial de construtores para a McLaren.
O lema do ídolo

O lema de Ayrton Senna desde que ingressou na Fórmula 1 sempre foi: "Vencer ou vencer". Senna dizia: "A vitória é o único prêmio de um piloto. É a motivação real e justificável para arriscar a vida em situações tão absurdas. Sem ela, não valeria o risco, por dinheiro nenhum, por nada neste mundo". E completava: "Ser piloto é uma questão de cromossomos: ou seu nasce com esta predisposição, ou não. Se você tem as bases, pode desenvolvê-las, mas, quanto mais frio e racional, mais você precisa ter dentro de si a paixão pela corrida".
As glórias que ficaram na McLaren
Em seis anos de McLaren, Ayrton Senna foi o maior vencedor da equipe em todos os tempos. Em 95 GPs disputados, o brasileiro conseguiu 46 pole positions, 36 vitórias e três títulos mundiais. Senna iniciou na McLaren em 1988, ano que conquistou seu primeiro título mundial. Sua última temporada na escuderia foi em 1993, quando conseguiu o vice-campeonato mundial. No ano seguinte se transferiu para a Williams, onde disputou apenas três GPs sem marcar nenhum ponto.
Vitória por menos de um segundo
A vitória mais dramática de Ayrton Senna em GPs foi em 13 de abril de 1986 na Espanha. Senna venceu o rival Nigel Mansell por apenas 0,014 segundos (ou seja: 14 milésimos) e com isso entrou para o livro "The Guinness Book of Sports Records", da editora Facts on File na edição 95/96. Em toda carreira na F-1, Senna conseguiu a incrível marca de 41 vitórias e 65 pole positions, além dos três mundiais.
O fim da era Senna
O show acabou. Ayrton Senna da Silva, talvez o mais completo e perfeito piloto da história da Fórmula 1, morria aos 34 anos no GP de San Marino, no dia 1º de maio de 1994. Sua Williams, na sétima volta, simplesmente não fez a temível curva Tamborello e chocou-se violentamente a 270 km/h contra o muro de proteção. O Brasil perdia um ídolo que dedicou dois terços de sua vida aos esportes motorizados. Primeiro no kart, depois no automobilismo e nos últimos dez anos na F-1. Em todas as modalidades, conquistou títulos e quebrou recordes.

domingo, 1 de maio de 2011

Ayrton Senna 17 anos sem o herói Brasileiro.

Cumprem-se hoje 17 anos depois da morte de Ayrton Senna da Silva, em Imola. Desde aí para cá, esta data foi sempre lembrada, e ao longo do tempo, muito se escreveu sobre o tricampeão do Mundo de Fórmula 1. Hoje vamos aqui recordar um texto de Eric Silbermann, um jornalista que foi muito próximo de Ayrton Senna, e que nos mostra por palavras que Ayrton Senna foi muito mais que um dos melhores pilotos de F1 de sempre:
Memórias de Ayrton Senna -
"Ao longo dos tempos, após a sua morte, todos lemos um "mundo" de palavras ocas sobre Ayrton Senna, muitos sentimentos falsos e outras tantas afirmações da mais profunda amargura. No décimo aniversário da morte de Ayrton Senna, perguntei a Rubens Barrichello como iria lidar com tudo isto e o piloto brasileiro respondeu: "Ayrton morreu há 10 anos e chegou a altura de colocar um ponto final na tristeza. Agora chegou a altura de nos sentirmos felizes com o que Ayrton representou para todos nós e devíamos estar a celebrar a sua vida e não a sofrer com a sua morte." Um sentimento adequado que vou reproduzir nesta crónica.

Encontrei Ayrton pela primeira vez em 1988, quando ele começou a correr pela McLaren e eu fui contratado como "press officer" da Honda para a Fórmula 1. Nas pistas pouco tive a ver, profissionalmente, com ele, já que era a McLaren que organizava a maior parte do trabalho com os media, mas tinha de o questionar diariamente, logo que saía do carro e no final de cada sessão de treinos para escrever o meu "press release". Senna odiava este momento! Tudo o que queria era falar com os engenheiros e olhava para o meu trabalho como uma inutilidade que interrompia a sua concentração. De facto, quando a Honda abandonou a F1 no final de 1992, enviou-me um cartão de Boas Festas com a seguinte mensagem: "Finalmente estou livre do teu maldito gravador!". Mas Ayrton estava enganado porque optei por uma carreira de jornalista e continuei atrás dele e das suas declarações. E já que as prestações da McLaren em 93 caíram a pique, um dos anos em que Ayrton melhor guiou como, por exemplo, no chuvoso GP da Europa em Donington, ainda tentei convencer o "grande homem" que os sucessos prévios da McLaren de 88 a 92 deviam-se mais a mim do que a ele, mas não sei porquê Ayrton nunca concordou com este ponto de vista.

As pessoas na Honda tratavam-no como um Deus, mas ele era, tão só e apenas, um homem. Claro que era um piloto extraordinário, mas tal como dizemos em Inglaterra, ele "vestia as pernas das calças uma de cada vez", tal como qualquer outra pessoa. Por vezes parecia que tinha pena de mim, logo  que se apercebeu que os meus patrões na Honda pouco entendiam sobre o trabalho de relações públicas: "Deves ser louco para teres este emprego," disse-me uma vez.

Mas, por vezes, era bastante difícil trabalhar com ele. Como, por exemplo, quando desistiu no GP de Phoenix e se escondeu dentro da "motorhome", recusando-se a sair para prestar declarações para o meu comunicado de imprensa. Fiquei sentado cá fora a ver a televisão que transmitia imagens do exército chinês a atacar os manifestantes na Praça Tianamen em Pequim.

Então percebi que a F1 não era a coisa mais importante do mundo e fui-me embora sem as declarações. Ayrton questionou-me sobre esta situação na corrida seguinte e, depois do sucedido nunca mais tivemos qualquer problema. Contudo, era bem capaz de passar 15 minutos a explicar-me porque é que estava muito ocupado para conceder uma entrevista de 5 minutos!

Era extraordinariamente meticuloso em tudo o que fazia. Confrontado com centenas de posters para autografar, Prost ou Berger tentariam fazê-lo o mais depressa possível, mas Ayrton teria o maior cuidado com cada um deles, assegurando-se que a tinta tinha secado antes de autografar o próximo. Uma situação típica da sua atitude perfeccionista.

Apesar de, por vezes, se irritar com eles, Ayrton gostava de trabalhar com a Honda já que o construtor o prezava tanto. Uma vez esteve na Disneyworld de Tóquio e, no final, acompanhei-o ao aeroporto de Narita, onde apanharia um avião para o GP da Austrália. À medida que nos encaminhávamos para o balcão e que o ajudava a fazer o "check in" disse-me: "Sinto-me como um rapazinho sem a companhia dos pais. Afinal o que é que eu sei?" Ayrton pretendia dizer-me que, cada vez que estava no Japão ou comparecia em acções da Honda, tudo, mas mesmo tudo, era feito para ele e em função dele e tinha esquecido o simples acto de pensar por si próprio.

O pior tempo que passei com Ayrton foi quando ele e Prost deixaram de se falar. Lembro-me de estar sentado nas instalações da equipa em Suzuka, onde os aposentos eram bem pequenos e os dois homens não conseguiam, sequer, olhar um para o outro. Uma atmosfera verdadeiramente irrespirável. Quando conseguiu ter um ascendente sobre a equipa descontraiu-se bastante e tornou-se ainda mais confiante e satisfeito da vida quando Gerhard Berger se juntou à equipa. Na realidade, um dos meus trabalhos "extra-oficiais" era ir aos aposentos da equipa durante a hora de almoço de domingo e quando estavam a preparar-se para a corrida, contar-lhes algumas das piadas e dos mexericos que circulavam no "paddock".

Tal como para a generalidade dos brasileiros a vida familiar era muito importante e Ayrton perguntava-me sempre como estavam os meus filhos. Lembro-me de me ter encontrado com ele num aeroporto perto de Oxford, antes do GP da Grã-Bretanha. Tinha como missão apresentá-lo a um jornalista de automóveis que tinha chegado num Honda NSX para Ayrton fazer um teste de estrada. Tinha o meu filho de sete anos comigo e o jornalista e o fotógrafo tiveram de esperar enquanto ele conversava com o meu filho, que estava demasiado envergonhado para falar. Ayrton perguntou se ele se portava bem e ofereceu-lhe um "pin" com o seu capacete e uma foto autografada. No dia 1 de Maio de 1994 o meu filho foi-se deitar segurando essa foto contra o peito.

Ayrton foi o melhor piloto de sempre? Quem quer saber e a quem é que isso interessa? Recordar-me-ei sempre dele como um ser humano complexo mas com um coração de ouro e isso é bem mais importante do que tudo o que conseguiu na sua carreira ao volante de um automóvel de competição.